Yraciara Alves
Violência em Porto Velho expõe falhas no combate ao crime e pede medidas mais incisivas
Porto Velho, capital de Rondônia, enfrenta uma preocupante escalada de violência promovida por grupos criminosos. Nos últimos dia, os ataques coordenados evidenciaram a fragilidade das políticas de segurança pública no estado. Ônibus escolares foram incendiados, veículos particulares destruídos, e o terror tem se alastrado em distritos como Jaci-Paraná e União Bandeirantes, além de bairros da capital.
Mesmo com o reforço das forças de segurança locais e a chegada da Força Nacional, autorizada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública para atuar no estado por 90 dias, os ataques persistem. Mais de 350 abordagens, prisões e apreensões já foram realizadas pela operação “Aliança pela Vida, Moradia Segura II”, que tenta conter o avanço do crime organizado no Residencial Orgulho do Madeira e em outras regiões críticas. Ainda assim, na madrugada da última quarta-feira (15), criminosos incendiaram mais 13 ônibus escolares, desafiando abertamente o poder público.
Porto Velho não é uma exceção na tragédia da violência que assola o país. Com 47,6 homicídios por 100 mil habitantes em 2022, a cidade registrou 1.118 assassinatos e ocupa a vergonhosa posição de quarta capital mais violenta do Brasil. Esses números refletem anos de políticas de segurança pública mal planejadas, infraestrutura precária para a polícia e uma ausência gritante de programas de prevenção ao crime, que vão além do combate ostensivo.
A situação, no entanto, não se resolverá apenas com repressão. Enquanto as ações das forças de segurança são indispensáveis para conter a violência imediata, é urgente que o governo estadual e a prefeitura invistam em soluções de longo prazo. Rondônia carece de programas sociais robustos que ofereçam alternativas para jovens em situação de vulnerabilidade, principal alvo do recrutamento pelo crime organizado. Investimentos em educação, emprego, cultura e lazer são ferramentas poderosas para desestruturar as bases desses grupos criminosos.
Além disso, a modernização e o fortalecimento da inteligência policial são cruciais para antecipar e neutralizar as ações do crime organizado. Rondônia precisa de mais policiais capacitados, tecnologia de ponta e um sistema de justiça eficiente para punir com rigor os responsáveis por esses ataques.
A violência desenfreada em Porto Velho não é apenas um problema local; é um alerta para a necessidade de uma mudança estrutural na forma como o Brasil lida com a segurança pública. Se o governo estadual e a prefeitura não assumirem a responsabilidade de liderar essa transformação, o ciclo de medo e destruição persistirá, e a sociedade continuará refém de um sistema que falha em proteger seus cidadãos.
Histórico da violência em Rondônia: da formação do estado aos dias atuais
Desde sua criação como estado em 1981, Rondônia tem enfrentado sérios desafios relacionados à violência, que marcaram sua história e seguem impactando sua população.
Nas décadas de 1980 e 1990, os conflitos fundiários foram especialmente graves, culminando em tragédias como o Massacre de Corumbiara, em 1995. Esse episódio, que resultou na morte de diversos trabalhadores rurais sem-terra durante uma operação de reintegração de posse, exemplifica como a disputa por terras foi um dos principais motores da violência na região.
Com o passar dos anos, Rondônia tornou-se um dos estados brasileiros mais afetados pela criminalidade.
Outro dado preocupante refere-se à violência contra mulheres. Rondônia apresentou, em 2022, a maior taxa de feminicídios do Brasil, com 3,1 vítimas por 100 mil habitantes, mais que o dobro da média nacional. Estudos apontam que, em Porto Velho, a violência psicológica e a dependência financeira agravam ainda mais a situação das vítimas, indicando a necessidade de ações específicas de acolhimento e prevenção.
Embora Rondônia tenha registrado avanços no enfrentamento de crises pontuais, como o envio recente da Força Nacional para combater a escalada da violência em Porto Velho, o histórico do estado deixa evidente que medidas repressivas, por si só, não são suficientes.
A história da violência em Rondônia revela um estado rico em potencial, mas refém de seus próprios desafios históricos e estruturais. O enfrentamento dessa realidade requer não apenas ação imediata, mas também planejamento estratégico e o compromisso de todas as esferas de governo. Rondônia merece uma nova narrativa, onde desenvolvimento e segurança caminhem lado a lado.