Yraciara Alves

O novo BRICS: ditaduras à Mesa de negociação e o futuro da democracia Brasileira

A recente expansão do BRICS, que agora conta com a Bolívia, Cuba, Belarus, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão como “países parceiros”, além da Indonésia como membro pleno, marca um momento de transformação para o bloco.

O novo BRICS: ditaduras  à Mesa de negociação e o futuro da democracia Brasileira
Publicado em 18/01/2025 às 11:06



Originalmente criado para fortalecer a cooperação entre economias emergentes como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o BRICS agora passa a incluir regimes com históricos variados de governança, incluindo ditaduras, o que levanta importantes questões políticas e morais.

Entre os novos parceiros, Cuba e Bolívia destacam-se por suas naturezas autoritárias, com restrições severas às liberdades civis e políticas. A entrada dessas nações no bloco sob a presidência do Brasil reforça a percepção de que o BRICS está se afastando dos valores democráticos para construir uma coalizão mais próxima de governos que rejeitam os padrões ocidentais de democracia liberal. Isso é ainda mais evidente quando consideramos a inclusão de Belarus, governado por Alexander Lukashenko, frequentemente descrito como “o último ditador da Europa”.

Essas decisões têm implicações tanto para a política externa quanto para a interna do Brasil. O país, tradicionalmente visto como uma democracia consolidada, começa a demonstrar sinais de erosão democrática, segundo relatórios internacionais. Ao liderar a expansão do BRICS para incluir governos autoritários, o Brasil se coloca em uma posição que pode comprometer sua reputação de defensor da democracia e dos direitos humanos.

O argumento econômico de fortalecimento do bloco e de diversificação de alianças é válido, mas não pode ser usado como justificativa para ignorar os valores fundamentais que definem uma sociedade livre. Ao alinhar-se mais estreitamente com regimes autocráticos, o Brasil corre o risco de influenciar negativamente o ambiente político interno e de reforçar tendências de enfraquecimento democrático.

Por outro lado, países como a Indonésia, que também ingressaram no bloco, apresentam democracias em desenvolvimento. Isso demonstra que o BRICS não é uma entidade homogênea, mas sim uma plataforma de interesses variados e, por vezes, contraditórios. No entanto, a presença crescente de governos autoritários entre os novos membros e parceiros ofusca essas nuances e lança uma sombra sobre os valores do bloco.

A expansão do BRICS representa uma oportunidade estratégica para fortalecer a cooperação econômica e política global, mas também é um alerta. A decisão de trazer regimes autoritários para a mesa de negociações reflete uma mudança que pode moldar o futuro da diplomacia global, mas que exige cautela e reflexão. O Brasil, como um dos fundadores do grupo e atualmente sua liderança, tem a responsabilidade de equilibrar os interesses estratégicos com os valores democráticos que já definiram sua posição internacional.

Em última análise, o novo BRICS apresenta um desafio: será possível criar um bloco globalmente influente sem comprometer os princípios fundamentais de liberdade e democracia? A resposta a essa pergunta não definirá apenas o futuro do BRICS, mas também o papel que o Brasil deseja desempenhar no cenário internacional.